Wednesday, December 13, 2006














Esse punhado de ossos

Esse punhado de ossos que, na areia,
alveja e estala à luz do sol a pino
moveu-se outrora, esguio e bailarino,
como se move o sangue numa veia.
Moveu-se em vão, talvez, porque o destino
lhe foi hostil e, astuto, em sua teia
bebeu-lhe o vinho e devorou-lhe à ceia
o que havia de raro e de mais fino.
Foram damas tais ossos, foram reis,
e príncipes e bispos e donzelas,
mas de todos a morte apenas fez
a tábua rasa do asco e das mazelas.
E ai, na areia anônima, eles moram.
Ninguém os escuta. Os ossos choram.

Ivan Junqueira


Wednesday, December 06, 2006

Sou...

Sou a raiva que come e deturpa a dor
Sou a chama num vazio do eterno amor
Sou a lama com que marcas as tuas pegadas
Sou a morte e a vida encruzilhadas
Sou pecado, virtude, sou perdão, sou ódio
Sou luz, água, sou ácido ascórbico
Sou as entranhas que te consomem
Sou anjo, besta, sou lobisobem
Sou eu que volto sempre ao final
Sou tu num pecado capital
Sou o nada que transparece de mim
Sou perfeito por ser assim...