Monday, June 26, 2006














As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história

da história da gente
outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida

à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma

e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto

Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida

gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou

meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

in Chuva
Mariza

Thursday, June 22, 2006














Se a vida trouxesse no leito de quem se deita
O jeito e o peito de quem se ama
E no regaço perdido de algo que já não tem razão
Nasce a paz de viver em céu aberto, vivendo em solidão
Gritanto por algo que não pode ouvir, que corre a fugir
Arranca-se do nada e acaba-se no mesmo local
Comendo o fel que cheira mal
E fede tudo em redor.
Guarda-se a vida numa garrafa e deita-se ao mar
Esperando o desespero de alguém a encontrar
Ou de continuar a boiar, nesse mar perdido
Em que as existências não passam do mesmo sitio
Nem as circustâncias que nos deixam presos neste local
Têm o sabor dessas lágrimas de sal
Choradas pela fixação de ter de seguir sem nada
E fazer-se de novo ao mar, continuamente sem parar
Descobrir o mundo a navegar
Porque se está dentro de uma garrafa
Nesta aventura solitária…















Quando o medo nos consome
Matando o sono e a lucidez
Surge o gelo correndo nas veias
Não respondendo aos porquês
Tudo não passa de um mito
Um papão que nos assombra
Os fantasmas do passado
Voltaram de novo à ronda
Mas o que aprendi neste tempo?
A ser forte e lutar sozinho?
A criar o meu destino?
A viver cada momento?
Não. Tudo é fruto do que somos
É intrínseco a cada um de nós
Há que ser fraco e ser forte
Há que ter azar e ter sorte
E apenas escutar a voz
Esta cá dentro todos a temos
Alguns chamam-lhe a voz da razão
Eu prefiro chamar-lhe o nome
Que por vezes se cala e dorme
O coração…
















Despido num abraço, um beijo voa
Para além da loucura
Vem a paz da amargura
No regaço de quem se perde
Dentro de si próprio
Enquanto continua à procura
De algo que não se sabe bem o que é
No momento em que a liberdade acerta
E que a tristeza acarreta
A poesia da dor…

Wednesday, June 14, 2006



O TEU ROSTO

Olho e revejo o teu rosto, que me apraz
A vida num preâmbulo de querer viver
E num segundo a vida que ficou para trás
Fica presente num indefinido temporal
Nos teus olhos revejo a chama do amor
Nos teus lábios bebo da minha sede de dor
Sem conforto inerente a quem eu sou
Fico assim…
Escutando o jeito que bate dentro de mim
Procurando razão para o sentido de ser teu
Sem saber que sem sofrer posso ser feliz

(Sem o teu colo durmo no breu
Sem te sentir sou um animal
Que vira latas na rua,
e mata a fome crua
Com carcaças do lixo e deambula,
Pelo caminho da solidão
Tenho o teu rosto no coração)

SAMBA EM PRELUDIO

Eu sem você,
Não sei nem porquê,
Porque sem você,
Não sei nem chorar,
Sou chama sem luz,
Jardim sem luar,
Luar sem amor,
Amor sem se dar.

E eu sem você,
Sou só desamor,
Sou barco sem mar,
Sou campo sem flor,
Tristeza que vai,
Tristeza que vem,
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém.

Ah, que saudade,
Que vontade de ver renascer nossa vida,
Volta querida,
Os meus braços precisam dos teus,
Teus abraços precisam dos meus.

Estou tão sozinho,
Tenho os olhos cansados de olhar para o além,
Vem ver a vida,
Sem você, meu amor, eu não sou ninguém.

Vinicius de Moraes

Tuesday, June 06, 2006




















SAUDADE

Sempre que a saudade acorda
E me vem bater à porta
Deixa as pegadas marcadas
Sobre o pó de outras dadas
Dizendo que não esta morta
Visita-me de vez em quando
Mesmo sem ser convidada
Por vezes trás companhia
A tristeza ou a alegria
Mas sempre para ser lembrada
E lembro-me muitas vezes dela
Mesmo quando ela não vem
A saudade é um princípio
Para outros será vicio
É o melhor que a vida tem…

O que conta afinal no espaço da vida
Não são as coisas em que acreditamos
São aquelas em que queremos acreditar
Nada vem por acréscimo
Se alguém quer realmente mudar
São etapas da vida, conquistas esquecidas
Que só se lembram ao conquistar
É algo que se remete do fim
Para o instante inicial
Não se vê e não se sente,
Mas sabe-se que é real…
É a utopia da vida, algo não existencial
De uma forma tão perdida
Ás cegas no caminho da vida
É a conquista final…















ONDE ESTAMOS AGORA?

Todas as miragens ao longe, se apagam de perto
Quanto o desespero se consome na quietude do deserto
A distância transfigura o que passa ao lado da solidão
Sem saber qual o rumo a seguir, qual o cais para partir
Onde estamos agora?
Pelos labirintos de franjas que seguimos
Chega o presente numa cordilheira de abismos
Na força que impulsiona e detém o que nós somos
Encontra-se sempre uma margem para saltar, ou um ramo para agarrar
Onde estamos agora?
E sempre tudo o que está longe é visto mais aquém
Quando nos confortamos no vazio e não vemos ninguém
Solta-se um grito que ecoa na margem temporal
Sente-se o dia a nascer, temos sempre uma margem para viver
Onde estamos agora?