Tuesday, May 30, 2006












Sou eu que retomo ao peso da cruz
Deslindando a ferro e fogo
O pesar do meu contentamento
Marcando cada pequeno momento
Como se fosse o último da minha vida
Sem loucura que de vão se transpareça
Ao fervor do sangue que corre dentro de mim
Obedeço ao querer de um olhar sem porquê
Olhos nos olhos para ver além do que se vê
Iluminando-me de coisas lindas
Estou em liberdade condicional...

Monday, May 29, 2006















NOITE ÉBRIA

Ébria surge a noite, neste caminho
E na sombra de quem passa,
O caminho e algo que trespassa,
No lento embalo de estar sozinho

E quem surge porém, não disfarça
A amargura de se viver sem destino
No amargo da virtude se desfaça,
A virtude de uma rota de pregrino

E doa a dor a quem sinta que o quer,
Sem pudor ou algo que transpareça
Deixa a vida transparecer na dor da tristeza

E no barco da vida jaz um jeito de graça
Que ilumina o mar e desfaz a ameaça
De alguém que se faz ao mar sem destino.

Monday, May 08, 2006













De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícius de Morais

Thursday, May 04, 2006















Salubridade é a forma em que se define
Num contexto inerente e disforme
Em algo que transparece ao disfarce
Que nos alimenta e consome
Talvez noutro conteúdo
Encaixado em paz no vão
De se ser cego, surdo e mudo
Sem se ser dono da razão
Notas soltas sem sentido
Num trecho curto, indefinido
Assim sou eu a solidão
Murmurando bem alto
A quem eventualmente esteja a ouvir
Com esta voz de silêncio
Gestos de quem é sofrimento
Sofrendo só e sem razão.
Quantas vezes o silêncio, é tão somente o silêncio
Escutando o vazio em redor num pensamento
Quantas vezes não sabemos o caminho
E nos perdemos, sem sequer sair do lugar
Quantos amigos deixamos em cada passagem
Em cada caminho da vida…
Quando penso em alguém, só penso em ti
Não por saudade,
Mas sim necessidade
Da tua chama dentro de mim.
Sem fracassos orientados pelo sal,
Das lágrimas que deturpam a sensatez
Sou sensato e não te quero mal, vivo preso ao surreal
Que me abstrai da lucidez.
Por isso não me entrego ao desejo
Não tenho forças para mais do que vejo
Com os olhos não com a razão, nem tão pouco o coração
Apagado num beijo.
Quando alguém surge só te vejo a ti
Não serve a mais ninguém este espaço que é teu
No traço da minha aguarela, tenho o sapato da cinderela
No fundo deste baú…
E num ápice compreendo que sem ti sou mais de mim
E contigo ao meu lado também sou assim
Gosto de viver, de amar, de conhecer,
Novas formas de estar, novos rumos e lugares
Para desvendar e viver.
Mas tu és o sol sobre a lua, que sou eu
Dois pontos importantes, mas distantes
Sozinhos no limite temporal,
Que define a nossa história e lhe dá a moral,
Pois sem ti não vivo e contigo preciso
De ter espaço para aceitar,
O rumo triste de nós os dois, que se perdeu no final
De uma história de amor…

















OS TEUS SEIOS

Com a noite surge algo de novo
Nem sempre tenho sono e durmo
No espaço rejeitado da vida,
sonho contigo despida
E no teu corpo me consumo!
Nem toda a tua altivez
Esconde o pouco de timidez
Que o teu corpo ainda tem
Nos contornos desse peito,
encontro sempre o meu leito
Com a certeza porém
De me afogar na tristeza
Iludido pela beleza
De um olhar inseguro!
Deixando para trás o cansaço
Durmo no teu regaço
E vejo-me ao espelho
Observando a amargura
Que reflecte o teu receio!
E embora um pouco baço
Surge então esse traço
Da perfeição dos teus seios.
Volto a despertar
Iludido pelo olhar
E pelos meus devaneios
Gostava de não acordar
Podendo apreciar
Eternamente o que vejo
E embebedar-me no desejo
Desse teu peito invulgar…
PARA ALGUÉM

Pelos confins de nada
Faz-se de novo ao caminho
Por aqueles a quem se deve um desabafo
Para quem o futuro é baço
Por todos na nossa vida
Embala-se no céu um desejo
Que paira na penumbra do medo
A vida segue e num beijo
Voa embalada em harpejo
Outra passagem da vida
E assim o que já não torna
Torna-se deveras presente
Por aqueles a quem alguém se deu
Por todos os que vivem no breu
Para alguém que é diferente