Monday, January 29, 2007

Vejo-me caminhando no caminho da inconstância, gosto de ser como aquele vagabundo que tanto imagino, até o acho parecido comigo. Sem algemas para me arrastar, sem roupa às riscas, serei talvez a liberdade oculta em mim nesta prisao infinita do meu Eu. Sombras que se reflectem nas paredes desta cela, sombras que vejo saindo de mim, eu que sou uma dessas sombras e muitas vezes nao me encontro quando olho... ¿Raios partam as sombras?...
Divago sobre as minhas leituras de matiné, encontro-me perdido na minha imaginaçao, sinto a ficçao muito proxima da realidade. Deixo-me levar pela irresponsabilidade, que contudo, ainda está bem presente dentro de mim e por causa disso sinto-me mais feliz do que nunca, porque esta fera fictícia liberta-me do que é real... ¡Bolas!¿Como sei que nao é solidao?
E deixo-me levar por este navio. Muitas vezes gosto de largar o leme, deitar-me no convés ao sol, e, na calmaria deste espelho azul claro, durmir um bom bocado, deixando que as brisas frescas de mar, me ditem onde devo estar quando acordar. E este caminho de todas as direcçoes leva-me para a direcçao que me compete seguir. Sim, porque o destino apesar de nao estar definido, segue sempre para o rumo que devo tomar, porque sem rumo nao teria razao de viver, e sem razao de viver, seria mais um morto-vivo na sociedade...¿E sem amor próprio nao seria exactamente a mesma coisa?...

Tuesday, January 23, 2007





Olhos nos olhos

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mas nem porque
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
Voçê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz...

Chico Buarque

Sunday, January 14, 2007














Destino do Vagabundo


Na manhã volta de novo embriagado,
Sujo de lágrimas e de tudo o que pôs lado,
Voltando a casa num triste lamento,
É um ícone saudosista do sofrimento,
Vive escondido no antros do fado,
Alguém que não sabe fugir do passado,
Fugindo em vão da penitência…


Na noite acorda com o coração gelado,
Lavado de mágoa e um olhar ressacado,
Sai para a rua num inerte sentimento,
De solidão gasta e quem sabe tormento,
É um vanguardista da vida, é um homem acabado,
Cuja eloquência bebe, na tasca do lado,
Para quem a vida perdeu a essência…

E assim escondido, triste, vencido,
Põe termo à vida num copo de vinho,
Chorando como quem não chora, ele grita,
Esquece a vida, relembra o amor,
Que canta meio engasgado e com dor,
Num arpejo de saudosismo…